Livros e Leitura

O simples ato da leitura transforma

a nossa forma de pensar e enriquece

o nosso conhecimento,

gerando uma capacidade imensurável

de criar o inimaginável.



Thiago Henrique Miranda



quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Homem que Lê

                                   

Eu lia há muito. Desde que esta tarde com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora: o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos que se ensombram pela profunda reflexão e em redor da minha leitura
parava o tempo.
— De repente sobre as páginas lançou-se uma luz e em vez da tímida confusão de palavras estava: tarde, tarde... em todas elas. Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já as longas linhas, e as palavras rolam dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins transbordantes, radiantes, abriram-se os céus; o sol deve ter surgido de novo.
— E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança: o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.
E quando agora levantar os olhos deste livro, nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim e aqui e mais além nada tem fronteiras; apenas me entreteço mais ainda com ele quando o meu olhar se adapta às coisas e à grave simplicidade das multidões, — então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu: a primeira estrela é como a última casa.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

Tradução de Maria João Costa Pereira

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